sábado, 26 de julho de 2008

Ao Pessimismo

Não espere de mim formalidades, o que vai sair da ponta desses dedos é tudo o que sempre me engasgou e algo para te engasgar nessa sua soberba de ganhador.
Se hoje você conhece cada pedaço do meu corpo é porque antes de me deitar contigo, deitei-me com o conformismo, deitei-me como uma prostituta e depois de tê-lo em minha carne pude saber quem era você.
Saiba Pessimismo, eu já fui feliz, já fui feliz sim, não ria de deboche! Já acordei com bilhetes de "amo você" colados na geladeira, já recebi elogios dos mais distintos, já recebi flores, então se hoje é você quem encosta os lábios em meu pescoço, saiba que é tudo obra do Cansaço.
Eu bem sei que foi você quem pediu a ele que fizesse todo o trabalho sujo, bem sei... Pronto, cá estou eu, deitado em seu leito imundo, sentindo nojo, querendo ir embora mas com a dor de não ter para onde ir. Ah, Pessimismo, ninguém é teu por querer pertencer, a quem você diz amar ao se deitar, de quem você comenta se deitar para seus amigos é só quem caiu em teu jogo como eu.
Todos teus amantes são tristes, todos teus amantes são machucados, todos teus amantes não sabem mais o que é sorrir com sinceridade, todos teus amantes não dedicam nada a ti a não ser o corpo, que já nem lhes pertence mais, por cansaço de carregá-lo.
Toma, abraça-te a este corpo, que de dor eu já não vivo mais aqui, toma, amasse, violente, é você quem nunca vai saber o que é amar de verdade.
Embora eu não saiba mais eu soube, o que me coloca em extrema vantagem em relação a você, embora eu não tenha mais esperanças, eu fui... Mas e você que nem mesmo sabe que por amor se sofre, que nem mesmo sabe o que é o brilho dos olhos do coração que se entrega a ti por querer pertencer, e você que só vive como parasita, e você que não morre?
Não me incomoda mais sua presença, a você, toda minha indiferença a partir dessa carta.

Irritantemente, Dario Tavares.